Óbvio (II)

Resposta ao comentário ao post Óbvio.

Antes de mais, obrigado, Nuno.

Em relação ao teu comentário:

Não me parece que seja demasiado optimista o que proponho. Repara: é algo concreto. Discutir a globalização calmamente entre quem concorda e quem não concorda. Dialogar entre jovens católicos e jovens bloquistas. Pôr cientistas e “gente de Letras” a falar. Pode parecer impossível ou embaraçoso. Mas não é nada do outro mundo. Aliás, em muitos lugares, já acontece. O problema é a arrogância que existe em todos os outros lugares.

Além disso, não me parece que seja idealismo o que proponho. O que proponho é uma espécie de “pragmatismo da provocação” (no bom sentido, ou seja, no de espicaçar ideias e pensamento): proponho que nos oiçamos, que digamos aquilo que para nós é óbvio. Não quero que deixemos de pensar como pensamos (não estou a tentar impor as minhas ideias), apenas que oiçamos os outros sem os catalogar logo nas mil gavetas da nossa sociedade ("se este diz isto, é porque é isto e, por isso, já não vale a pena ouvi-lo").

Difícil? Sem dúvida. Mas, por exemplo, no caso das Ciências vs. Letras, poderia ter tantas consequências práticas. É uma coisa até bastante simples: ouvirmos aqueles que sempre desprezámos. Ganharmos o hábito do diálogo nas coisas que realmente importam. Uma espécie de fecundidade do discurso (mas isto já é ser demasiado críptico, demasiado encerrado em mim mesmo e é esse o pecado de muitos discursos, linguagens, conversas — o de andar em círculos, assumindo como óbvio coisas que quem é de fora não compreende ou não partilha).

Quanto à harmonização do mundo social. Seria óptimo, mas somos todos tão diferentes. Por enquanto seria bom vivermos de forma interessante na nossa desarmonia. E não nos encerrarmos demasiado cedo em certezas absolutas. Temos de admitir (mesmo como hipótese remota) que podemos estar errados, mesmo no que é fundamental. Só assim poderemos deixar de ser sectários e mais humanos (porque, nesse momento, deixamos de nos definir por aquilo que pensamos ou acreditamos, mas pela nossa capacidade humana de pensar e acreditar).

Tenho as minhas ideias e crenças próprias. Mas sei que, por ora, o mundo continua incompreensível — o que é mil vezes preferível à cegueira das explicações simplistas. (Também por isso, não vale a pena desprezarmos aqueles que, no meio desta incompreensabilidade toda, pensam de maneira diferente.)

Que achas?

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