Doutores e Engenheiros

Tenho ouvido várias opiniões em jornais e programas de opinião em rádio e televisão onde se defende que este país "está cheio de doutores e engenheiros" e que é preciso é apostar na indústria, na prática, etc. Ora, estas afirmações, se levadas a sério, implicam um desinvestimento na formação de nível superior (menos doutores e engenheiros) e uma aposta na mão-de-obra barata (pessoas que fazem coisas, mas sem formação). Temos de perceber que é preciso apostar na indústria, na prática, mas também na qualidade, na formação e no ensino superior. Os novos membros da União Europeia estão cheios de doutores e engenheiros e é para lá que o investimento e o emprego estão a ir. É típico dos portugueses: quando a crise aperta, achamos que a formação e a qualidade são luxos dispensáveis, quando, na realidade, são a única forma de um dia sairmos da Crise (de tão velha que é, já merece maiúscula). Esta crença endémica na sociedade portuguesa de que a formação, a investigação (teórica e prática) e a exigência académica são dispensáveis e "coisa de líricos" é a razão por que não andamos para a frente (ou andamos a copiar os países que já perceberam a importância desses valores).
Foi publicada uma versão deste texto na Visão n.º 653,
2005-09-08, como Carta do Leitor.

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