De carro

Dizem-me, por vezes, que devo ser tonto por gostar de fazer grandes viagens de carro. Talvez quem não percebe este gosto ache que as viagens de carro são todas como ir de Lisboa ao Porto ou estar parado três horas no IC19. Enfim, admito que o gosto vem daquilo que vivi quando era mais novo.


Lembro-me de conhecer Portugal quando era criança. Um pouco mais velho, percorremos toda a Espanha e lá nos aventurámos por França. Lembro-me de comer fruta à beira duma qualquer estrada francesa, à sombra duma fileira de árvores. Lembro-me de dormir em estações de serviço, lembro-me de chegar a cidades às três da manhã, lembro-me de ver o nascer do sol mesmo ao chegar a Barcelona, cansado mas contente. Lembro-me ainda de achar estranho o benvingut das placas catalãs, semente de certas manias futuras.

Ganhei o gosto de passar pelas terras, de sentir o sabor estranho dos nomes desconhecidos, de falar com pessoas que poucas vezes vêem turistas, de dobrar o mapa e tentar perceber qual o melhor caminho para chegar um pouco mais adiante.

Gosto de sentir a distância na pele, de parar quando me apetece, de ver as luzes dos carros nas estradas à noite, de passar por túneis, de ver cidades ao fundo, de conhecer como muda a forma das placas entre cada país e cada região e tudo o mais. Sabe-me tudo a aventura e a liberdade.

E o aborrecimento das horas a olhar pelo vidro? Bem, talvez quem seja aborrecido precise que o mundo o bombardeie com fogo-de-artifício para gostar de alguma coisa, mas há muito mais coisas interessantes no mundo do que se diz, para dizer a verdade...

Tudo isto para dizer que, em breve, vou recordar velhos tempos e fazer uma grande viagem de carro.

Fins aviat!

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