Nação e &c.

Nas Margens de Erro, refere-se o pequeno equívoco deste blog relativo à ironia das aspas.

Quanto à ironia das aspas em "consenso", penso não me enganar (desta vez), se disser que o "consenso" espanhol é uma construção fictícia criada sobre vários desencontros. Aliás, parece-me que o caso espanhol é um exemplo extremo da falta de consenso relativo à comunidade nacional. Para muitos (bascos, catalães, galegos e não só) Espanha é uma comunidade plurinacional, fundada, segundo uns, num "patriotismo constitucional" ou, segundo outros, na "imposição castelhana". Para outros, Espanha é uma nação como qualquer outra e as efervescências nas margens são apenas manifestações de anti-patriotismo, traição ou apenas "manias" pós-modernas, por assim dizer. Para uns, há um problema espanhol. Para outros, Espanha não se discute e é ridículo fazê-lo.

Nos outros casos de indefinição nacional (por exemplo, Canadá e Reino Unido), as posições não estão tão extremadas. Na Espanha, as concepções mentais do que é o mundo e a configuração cultural da Península Ibérica estão extremadas até pontos que nós, portugueses, mal suspeitamos.

Já ouvi catalães sussurrarem que "têm inveja da independência portuguesa", apesar da riqueza que a integração no Estado espanhol lhes trouxe (mais mercados, etc.). Já ouvi outros espanhóis dizer que "Portugal é um acidente histórico de Espanha". Também nestas palavras díspares vislumbramos o desencontro de perspectivas (se quiseremos ser simplistas, entre a perspectiva centrípeta castelhana e a perspectiva centrífuga de todas as outras nações ibéricas, com ou sem aspas, incluindo Portugal).

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