Sobre o ensino do inglês (3)

Rogério Matos continua o nosso debate aqui.

Concordo com vários pontos: que o inglês é cada vez mais necessário, que o importante são os resultados e, acima de tudo, que o interesse dos alunos é o cerne da questão (afinal o objectivo do sistema de ensino é ensinar).

Também concordo que a análise de Helena Rodrigues no Abrupto é muito pertinente. Apenas uma observação em relação à mesma: Quando se refere "[a]os modelos sucessivamente impostos [de] eficácia [que] não chega nunca a ser questionada, apesar do conhecido insucesso que se tem vindo a agravar", convém afirmar que os modelos e o seu sucesso são questionados nas universidades, em muitos debates, em discussões infindas em fora de professores e investigadores, etc. Claro que aqui o problema é a surdez dos governantes. Quando ao agravamento, se analisarmos com alguma atenção o panorama do ensino do inglês (não alarguemos a discussão, por enquanto), há algo que se mexe, por assim dizer. A implementação do estágio pedagógico há uns anos, a reforma do ensino dos professores, etc. começa a ter alguns frutos. Se não podemos cair na tentanção de experimentar sucessivamente para ver o que resulta (um dos problemas das reformas do ensino em Portugal), também não podemos usar o argumento do "bota-abaixo" (está tudo mal, temos começar de novo) porque, em condições muito difíceis, há professores que trabalham e conseguem resultados, há métodos que funcionam. Afirmar que tudo se tem vindo a agravar é esquecer os pequenos progressos que se têm feito e deitar fora boas experiências e oportunidades. Sem entrar em pormenores, defendo apenas que não se caia em nenhum dos extremos: nem achar que está tudo como deve ser e o ensino está bom (não está), mas também não deitar abaixo aquilo que de bom se faz (em Portugal quase todas as análises, em muitos campos, sofrem de pessimismo endémico: usamos sempre lentes que não deixam ver o que de bom se faz ou se há alguma evolução positiva). Não nos podemos esquecer que os professores provêm de várias instituições de ensino superior (há, obviamente, melhores e piores), têm motivações diversas, ensinam em condições que muitos nem imaginamos, pertencem a várias diferentes gerações (preparadas de forma muito distinta) e têm a responsabilidade de ensinar milhares e milhares de alunos. Não serve isto como desculpabilizante de qualquer espécie, apenas como incentivo a descobrirmos aquilo que resulta nesta miríade de condições e tentar aproveitar esse conhecimento em interesse dos alunos.

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